Pequenos produtores desesperados pois a base da alimentação bovina e caprina tá acabando na Paraíba

“ESTADO DE EMERGÊNCIA”

Palma forrageira desaparece do Cariri Ocidental e produtores
já reduzem rebanhos bovinos em 50% podendo chegar a 70%

Edson Verber

A palma forrageira já desapareceu da Micro Região do Cariri Ocidental da Paraíba em face do ataque da praga conhecida como cochonilha do carmim. Com isso os produtores estão sendo forçados a reduzir os seus rebanhos havendo casos que já chegam a 50%, mas com tendência de queda até 70%, uma vez que a palma é a base da alimentação animal, principalmente, na fase da seca. Em face da situação a Faepa quer que seja decretado “estado de emergência”. No total a cultura da palma caiu 40% no Estado.
Esse quadro nada animador foi traçado, ontem pela manhã, durante a reunião “emergencial” que a Federação da Agricultura do Estado da Paraíba convocou para discutir formas de controlar a praga conhecida como cochonilha do carmim, que começou a mostrar seus efeitos na Paraíba a partir do ano 2000 e que vem se espalhando sem controle por dezenas do município do Cariri da Paraíba e vários outros estados do Nordeste, já tendo destruído mais de 100 mil hectares da forrageira, em Pernambuco e na Paraíba.

O gargalo

O primeiro falar, já antes do início da reunião, o presidente da Emater, Manoel Duré, disse que “o gargalo do combate à cochonilha é a conscientização dos produtores no sentido de que tem de usar variedades de palmas resistentes para fazer os novos plantios, para que a praga desapareça completamente do nosso Estado. Entretanto, existe um espaço de tempo necessário de dois anos para que essas variedades estejam disponíveis”.
Diante dessa situação de calamidade pública, emergencial, em que nos encontramos, prosseguiu Duré, podemos partir para produtos alternativos de combate à praga, que foram testados e validados pela Emepa, como são os casos do óleo do algodão e detergentes diversos que resolvem a situação. E ainda alguns agroquímicos que podem ser usados desde que haja um treinamento para o produtor, no sentido de que preserve a saúde do trabalhador, do meio ambiente, dos animais e dos humanos que consomem o leite de vaca e caprino.
Sobre a situação da cultura da palma forrageira, Duré disse que “no Cariri Ocidental toda palma praticamente foi dizimada pela cochonilha do carmin. No Cariri Oriental está no mesmo caminho. E o pior é que a praga já está indo em direção ao Sertão, de forma que se não houver uma ação conjunta, integrada, entre produtores e o poder público, a palma está com os dias contados na Paraíba, salvo as poucas plantações resistentes já feitas”.

Quem decide

Já o presidente da Faepa, Mário Borba, assegurou “são 500 mil hectares plantados no Nordeste e 160 mil na Paraíba, que não podem ser perdidos. A palma é um patrimônio do semi-árido, sendo a alternativa mais viável para os produtores daquela região. Portanto, a falta de planejamento e políticas públicas voltadas para o segmento não são mais admitidas, uma vez que a praga já fez a produção cair em cerca de 40% e a tendência é piorar se medidas emergenciais não forem adotadas. É preciso, então, decretar situação de emergência para resolver a situação”.
Sobre a forma de combate mais adequada à praga, a ser usada nas plantações, Borba foi incisivo ao garantir que “temos três alternativas para solucionar o problema, sendo que a primeira é o uso do agroquímico que é criticado por autoridades do Governo do Estado; a segunda é o uso de variedades resistentes e ai nós perguntamos, quando é que vamos dispor em quantidade suficiente para plantar? E a resposta é que não será em menos de dois anos. E é lamentável porque não há tempo para esperar. Por fim, a terceira, são os produtos biológicos que vêem sendo usados há oito anos e não resolveu”.
Por isso, ressaltou, diante da realidade que a cochonilha se espalha a cada mês para outros municípios e que os produtores estão sendo obrigados a venderem os seus rebanhos pela metade do preço, defendemos o uso do agroquímico, para podermos conviver com a praga assim como convivemos com o bicudo do algodão, já que é impossível erradicar. Portanto os produtores em conjunto com a Emepa é que vão decidir o que usar para poder garantir as plantações da palma tão essenciais para a sobrevivência dos seus rebanhos e a garantia da sobrevivência das suas famílias.
Retrato crítico

O depoimento do pequeno produtor José Dimas mostra um retrato crítico da situação dos que trabalham com a pecuária no Cariri quando diz que “eu tenho 15 hectares de palmas plantadas, no município de Santo André, e praticamente está toda acabada. Eu tinha 55 rezes, já vendi 30, só tenho 25 e acho que terei de diminuir pra 15, porque tirante da palma não há o que dar ao gado, porque não há água capaz de produzir capim e fazer forragem”.
De forma objetiva ele resumiu o porquê da situação em que se encontra junto com as demais dezenas de pequenos produtores da área, assegurando que “nós não estávamos preparados para encarar uma situação como esta, de verdadeira calamidade pública, porque os pequenos e médios proprietários do Cariri, tirante do inverno - que dura somente três meses - nós tratamos os animais com palma. Temos uma pequena bacia leiteira onde produzimos leite de cabra e de vaca, e estamos a ponto de fechar ou deixar só uns 30%”.


Quem estava

A reunião contou com representantes e técnicos da Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária (Emepa), Secretaria de Estado do Desenvolvimento da Agropecuária e Pesca (Sedap), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Defesa Agropecuária e FAEPA, a fim de identificar as possíveis causas da morte dos animais e buscar soluções para o controle da praga que vem dizimando os campos de palma da Paraíba.
A reunião foi desencadeada pelo fato de terem ocorrido mortes de animais em Boa Vista, no Cariri na semana passada. “Tendo em vista os fatos, nossa suspeita é que a morte dos animais foi causada pelo uso indevido de inseticidas na tentativa desesperada de salvar a produção”, concluiu o Presidente Borba.

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