Direita - através da grande mídia - usa comoção da morte de Eduardo Campos para tomar o poder do PT, porque não pode dar outro golpe militar

O ESPETÁCULO DO FUNERAL DE EDUARDO CAMPOS E O CENÁRIO POLÍTICO ELEITORAL COM MARINA


Jonas Duarte*

Parece-me evidente que a direita midiática, braço jornalístico da direita política e dos interesses econômicos inconfessáveis dos grandes grupos econômicos nacionais e internacionais, tirou o máximo proveito da morte trágica de Eduardo Campos. Sem nenhum escrúpulo ou sensibilidade, o objetivo foi construir um Evento de oposição a Dilma. O espetáculo foi liderado pela Globonews, mas arrebatado por todos de plantão.
A candidatura de Marina, no contexto de comoção nacional e mitificação política de Eduardo Campos torna-se instrumento de grande utilidade para a direita antidilma. Especialmente pela personalidade política aparentemente confusa de Marina, mas explicitamente a seu serviço. Ela, Marina, cai como uma luva aos interesses eleitorais da direita. Parte de uma história política no campo da esquerda constrói uma imagem de fragilidade física e fortaleza política-ideológica, com um discurso ambientalista progressista e um pensamento religioso conservador. Apresenta um pensamento econômico mais próximo do neoliberalismo radical tucano, do que do neodesenvolvimentismo dilmista. Embora, me pareça que parte expressiva de seu eleitorado venha da falta de coragem de explicitar seu ódio a Dilma e ao PT votando nos tucanos. Muita gente que tem vergonha de votar no PSDB, por razões óbvias, mas que assimila a propaganda anti-PT, não via Eduardo como possibilidade, passa a ver em Marina a depositária de suas esperanças de derrotar o PT no próximo pleito.
Vendo assim, os acontecimentos da última semana e a imagem trabalhada por essa mesma mídia direitista conservadora contra Dilma nos últimos 18 meses tornam as eleições de outubro como um momento crucial para o futuro do Brasil e da América Latina.
Parece incongruente que as classes dominantes brasileiras, representadas por grandes grupos econômicos industriais, financeiros e agrícolas; que se beneficiaram e cresceram economicamente falando, durante os governos Lula e Dilma se posicionem politicamente e trabalhem eleitoralmente contra Dilma e usem artilharia tão pesada contra esse Governo. Apenas parece, mas segue a lógica de nossa histórica política. Revisando a História, essa nos mostra que o conservadorismo de direita brasileiro, não aceita, não suporta, e conspira 24 horas por dia contra governos com essas características.
Impedidos pelo contexto histórico atual de derrubarem, através de golpes violentos, governos com as características dos governos Lula/Dilma, esses setores só têm uma arma: as eleições. E as eleições passam necessariamente pela conquista da opinião pública, onde eles têm os principais instrumentos, as armas mais poderosas: os meios de comunicação. Com essa máquina ao seu dispor realizaram uma artilharia contra o governo Dilma, nos últimos meses, apenas comparável a artilharia contra Getúlio no período que se estendeu entre 1952, pós-criação da Petrobras, até 24 de agosto de 1954.
Mesmo assim, no campo do jogo democrático, com todas as limitações impostas, as disputas, no voto, favorecem ao campo popular. A direita conservadora perdeu pra Getúlio em 50, pra JK em 55. Houve empate com Jânio em 60 (o vice eleito foi do campo democrático-popular – Jango). Não suportaram foram para a brutalidade, onde são realmente muito forte.
Com o golpe de 64, a direita conservadora derrubou o Governo legítimo de Jango, impôs uma ditadura militar, prendeu, torturou e matou opositores para edificar um “modelo” econômico e social que lhe conviesse. E construíram.
Neste ínterim edificaram também novos e eficazes instrumentos de formação da opinião pública (não por acaso, a Rede Globo é de 1965).
Com a redemocratização ainda ganharam com Collor em 89 e com FHC em 94 e 98. Mas perderam em 2002, 2006 e 2010. O campo popular mostrou força, aprendizado e competência na dimensão eleitoral.
E o contexto sociopolítico e econômico do mundo hoje é outro. Favorável ao avanço das forças democráticas em toda a América Latina. Sem espaço para golpes e ditaduras.
O que, afinal, teme e por que ruge a direita brasileira e seus aliados internacionais contra os governos do PT?
1 – Os governos do PT reduziram significativamente a miséria no Brasil. A fome, companheira desgraçada de milhões de brasileiros até 2003, passou a ser combatida com eficácia e foi colocada em patamares “nunca antes visto na história desse país”. Assim como, pela primeira vez, mesmo que moderadamente, o Brasil assistiu a redução da desigualdade social. Para o pensamento conservador de direita, a fome sempre foi sua aliada. Para eles, a fome é um processo natural, consequência da incapacidade pessoal de angariar meios de supera-la. Um povo com fome é muito, mas muito mais fácil de domá-lo, compra-lo, enganá-lo. E esses ricos conservadores de direita assistir os pobres ascenderem socialmente é inaceitável. Chegam a histeria contra essa possibilidade. Historicamente, com eles no comando do Estado brasileiro, só se alargaram essa distancia entre pobres e ricos. No Brasil, essa direita conservadora fecha as portas e tapam o nariz para o povão e o seu cheiro. Não toleram as pessoas do povo, consumindo, comprando, em aeroportos, viajando, inclusive para fora do Brasil. Sequer querem partilhar as praias com o povão, a massona popular brasileira.
2 – Os governos do PT deixaram o alinhamento automático, subalterno, vergonhoso, aos gendarmes do Norte. EUA e Europa tinham nosso país como seu quintal. Chegamos ao absurdo de reconhecer o governo autoritário, golpista de Fujimori no Peru, por exemplo, por exigência explícita dos EUA. Coisa que os ocupantes do Planalto vergonhosamente cumpriam a cada ligação telefônica de Washington. Isso mudou nos governos do PT. Nos golpes contra Zelaia (Honduras) em 2007 e Lugo (Paraguai) em 2012, os governos petistas, não só não se curvaram às exigências de Washington, como articularam punições contra os golpistas que foram decisivas na retomada da “normalidade” nesses países vizinhos. A direita conservadora brasileira sempre foi subserviente aos seus chefes do Norte. Não aceita que os governos brasileiros trabalhem noutra direção.
3 – Os governos Lula/Dilma se aproximaram da América Latina, incluindo nessa estratégia, Cuba e Venezuela, dois países que edificam sociedades autônomas do mando imperialista do Norte. E que passam a ser, de alguma forma, referências para outras nações desse Continente. Mostram a possibilidade de se erguerem enquanto nações livres, autônomas, definindo e construindo suas próprias histórias, sem a intervenção dominadora internacional. Essa ideia de aproximar-se a países com histórias de autonomia, independência, igualdade e socialismo como Cuba e Venezuela é inaceitável para as direitas conservadoras brasileira e latino-americana. Daí que eles se organizam internacionalmente, continentalmente, para desestabilizar, e se possível, derrubar esses governos. Nesse particular não precisa que o governo seja socialista, rompa com a ordem em vigor, basta não seguir a orientação imperialista.
4 – A direita conservadora brasileira não aceita que o Brasil reduza a taxa de juros básica (Selic), forçando negócios de riscos para o capital especulativo, parasitário. Muito menos que os recursos das vultosas reservas internacionais do Brasil não estacionem no FED (Banco Central dos EUA) e tomem destino de bancos de investimentos como o BNDES e fomente projetos estratégicos de infraestrutura no Brasil, na América Latina e na África.
5 – O governo anterior, de FHC, havia se comprometido com os imperialistas do Norte, de assinar a ALCA em 2005. O Acordo de Livre Comércio das Américas previa a entrada de produtos estadunidenses no território brasileiro sem barreira fiscal, ou seja, sem impostos. O Governo lula, não só implodiu essa tentativa sorrateira de destruir a economia brasileira, como recuperou e fortaleceu o Mercosul, estimulou e participou de iniciativas políticas de movimentos de articulação de novas organizações regionais; como a UNASUL e a CELAC. A direita conservadora esbraveja contra essas iniciativas.
6 – O Governo Dilma participou da articulação recente de criação do Novo Banco de Desenvolvimento do BRICS, assim como, do Fundo de Reservas desses estados (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Essa iniciativa, aparentemente de pouca importância, atua no coração do sistema mundo, montado há exatos 70 anos em Breton Woods – EUA. Ali foi criado o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a Organização do Comércio, à época GATT. Esse sistema funcionou e funciona até hoje, como braço econômico de dominação estadunidense no mundo. O BM define o que financia e onde coloca seus recursos, conforme determinação dos EUA. O FMI injeta e empresta os recursos para os “socorros” nas diferentes nações, determinando as políticas econômicas sempre amargas desses países. Por fim, o dólar americano, como moeda universal, funcionou e ainda funciona como o “porrete” econômico que subordina nações e povos. As estruturas recentes, criadas pelos BRICS, por si só, redirecionam possibilidades para a economia mundial, e possibilidades concretas de desobediência as determinações de Washington. A direita conservadora, lambe-botas dos imperialistas do Norte, não suportam essas iniciativas com o Brasil de dentro, diria mesmo, à frente. Por isso o ódio contra Dilma.
7 – Por fim, em meio à crise internacional, estrutural do capitalismo, os governos do PT não desandaram a cortar gastos, reduzir ministérios, provocar desemprego em massa e ajustar a economia conforme exigência do sistema financeiro, bem cumprido por alguns países da Europa, como Grécia, Espanha, Itália e que amargam terríveis índices de desemprego. Em meio a crise os governos do PT engendraram uma política de caráter keynesiano. Ou seja, colocaram o Estado para estimular a economia, gerar rendas. Como? Expandindo universidades, criando Institutos Federais de Educação, construindo obras de infraestruturas como portos, estradas, canais, ferrovias; aumentando o valor real do salário mínimo; criando programas de fortalecimento do Mais Médicos, contratando médicos para atender no interior, construindo uma malha de postos de atenção básica à saúde nunca visto; criando programa de moradia como o Minha Casa, Minha Vida; criando e fortalecendo programas sociais como o PAA, PNAE, o Bolsa família, etc.
Nessa direção, o Brasil vivencia a crise geral do capitalismo com baixo nível de desemprego, expansão da educação superior, melhoramento das condições de infraestrutura, e da saúde. Não descarrega os ônus da crise nas costas dos trabalhadores, como é o comum no capitalismo. Os setores dominantes não aceitam essa forma de enfrentar a crise. Vide Europa.
Por tudo isso os esforços da direita conservadora brasileira para derrubar o governo do PT serão enormes.
Cabe a quem tem minimamente compromissos com os “de baixo”, diante do quadro eleitoral que se apresenta fazer uma leitura correta, ter responsabilidade e coragem.
Reeleger Dilma Presidenta, creio, é a principal tarefa dos dias atuais.
Em seguida, assegurado esse passo, com esse governo, definir rumos, corrigir políticas, avançar nessa ou noutra questão, enfim fazer a crítica necessária para o avanço das conquistas no Brasil. Não nos iludamos Marina faz parte da estratégia imperialista, da direita conservadora para recolocar o Brasil nos trilhos de seus desejos.
* Professor doutor do Departamento de História da UFPB

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