Instituto investe R$ 3,8 mi e transforma a cultura popular e negra em alavancas para o desenvolvimento em Bomba do Hemetério - Recife

Reportagem Edson Verber
Fotos Leo Caldas

Nem o desprezo imposto pelos poderes públicos municipal e estadual e nem a pobreza decorrente do sistema concentrador de renda, foram capazes de desanimar os mais de 60 mil moradores da região norte do Recife, polarizada pelo conhecido Bairro Bomba do Hemetério, cujo componente raça negra tem lugar de destaque tanto na quantidade quanto no impulso cultural que dá às localidades. Foi neste quadro que o Instituto Walmart decidiu, em 2008, implementar o primeiro Programa de Desenvolvimento Local Integrado do País, que chegou a 2012 com investimento total de R$ 3.843.319,24.
Com a palavra de ordem Bombando Cidadania, o Instituto montou uma completa equipe de profissionais dos mais diversos ramos de atividades firmou parcerias com o Sebrae e Universidade Federal de Pernambuco e desde 2008, o bairro é alvo de iniciativas que focam a organização social, a geração de renda, o desenvolvimento cultural, a educação, a saúde e o meio ambiente. Os projetos implementados na comunidade - entre eles os 18 produtos turísticos oferecidos nas visitas ao bairro - beneficiam diretamente mais de 3 mil pessoas.
Para tanto, foram feitos os seguintes investimentos, ano a ano: em 2008, R$ 451.487,30, na elaboração de projetos e outras atividades; em 2009 foram R$ 579.135,82, em 2010 R$ 1.364.803,92, em 2011 R$ 557,892,20 e, em 2012, R$ 890 mil. Em todos os seus núcleos o Instituto mantém 18 mil jovens em treinamento, que podem ser contratados por qualquer empresa.



Celeiro cultural

Quem explica as motivações para os investimentos é o diretor do Instituto Walmart, Paulo Mindlin, que diz ser a Bomba do Hemetério “uma comunidade que se destaca pelo poder de mobilização dos moradores. Não foi à toa que o Instituto Walmart escolheu o local para receber o primeiro Programa de Desenvolvimento Local Integrado do País. O próprio nome do bairro já revela o sentimento de solidariedade existente no local, pois se trata de uma homenagem a um antigo morador, seu Hemetério, que tinha uma bomba d’água em casa e disponibilizava o serviço aos demais moradores”.
Além disso, a Bomba é um celeiro cultural. Ela agrega quase todas as manifestações culturais de Pernambuco - caboclinhos, troças, maracatus, reisados, e etc. São cerca de 60 agremiações em seu território. Quando chegamos ao bairro, enxergamos que a cultura seria um pilar importante no desenvolvimento sustentável da comunidade.


Gerar renda

Garantiu que “nestes últimos quatro anos trabalhamos diversos temas determinantes para o desenvolvimento sustentável de qualquer comunidade; saúde, educação, trabalho e renda, empreendedorismo, meio ambiente e, claro, cultura. O Pólo de Turismo Comunitário da Bomba do Hemetério é mais um projeto, dentro dos quase 30 que executamos até agora, que busca a sustentabilidade da comunidade”.
O Pólo, concluiu, é fruto de um trabalho intenso de formação e capacitação dos artistas e brincantes locais. Através dele, esperamos movimentar o bairro; gerar renda para os comerciantes; atrair atenção do poder público para melhorar a infra-estrutura; e fazer com que as agremiações não dependam de apadrinhamento político ou, apenas, do Carnaval para se sustentarem.

O povo

A coordenadora do Bacnaré (Balé de Cultura Negra do Recife), o grande bastião da cultura local, que já se transformou numa atração internacional, indo até a China, Antônia Batista avaliou que “o projeto é muito importante pra gente porque através dele nós tivemos oportunidade de ir para outros municípios, para outros estados e até para outros países, como Espanha, França, Bélgica, Inglaterra, Alemanha e Taywan (China). Enfim, beneficiou muito o nosso trabalho, pois passamos a usar o artesanato como fonte de renda para nos manter, já que o poder público não nos ajuda aqui no Estado e no Município. Só o Ministério da Cultura nos ajudou no passado dando dez passagens para o exterior”.
Outro que fala sobre o Projeto é o Zaqueu Barbosa, proprietário do Bar do Zaqueu, que está incluído no roteiro gastronômico do Projeto. Avaliou que “passamos a ficar mais conhecidos e, desta forma, estamos vendendo mais, melhoramos o nosso produto, com a Assessoria que o Projeto nos garantiu e já recebemos, além da clientela local, que é crescente, turistas da Alemanha, Portugal, EUA e Canadá”.

Negros em destaque


Sem dúvida, os que visitaram ou visitarão a Bomba, sairão com uma impressão muito positiva e arrepiará ao assistir a apresentação do Balé de Cultura Negra do Recife, fundado em novembro de 1985, sob orientação do professor, pesquisador e coreógrafo Ubiracy Ferreira, o primeiro negro a dançar no Teatro Santa Isabel, então freqüentado pelos herdeiros da oligarquia das usinas de açúcar. O Bacnaré extrapola o limite da dança para incentivar nos seus integrantes o interesse pela pesquisa e o despertar de um conhecimento maior das suas raízes culturais africanas.
A apresentação do grupo é um colírio para os olhos, em face da beleza dos integrantes, a maioria negros e negras, e também pela emoção que os tomam durante a dança, que tem orientação direta da Tribo Zulu africana já visitada pelo grupo. É um espetáculo que mostra toda a riqueza da musica e dança das tribos africanas, a exemplo da cultura Massai e dos povos de camarões entre outros.
A dança tradicional da cultura Zulu, executada por moças e rapazes representa a transição, com a mudança de menina para moça e de menino para rapaz, como boas vindas para o casamento esta dança é intocável por influencia ocidental. É feita com tambores e cantos e vestimentas tradicionais. Os homens usam roupa de pele de animal, geralmente pele de cabra ou vaca, cintos de cerimonial e chocalho nos tornozelos, mostra muita força muscular como o levantamento de pernas, quanto, mas alto o homem levantar a perna, mais forte é sua virilidade e força.


Preconceito

Nem o preconceito, a pobreza e nem as péssimas condições das ruas com o lixo tomando conta e esgotos a céu aberto, foram capazes de impedir a explosão de criatividade dos integrantes do Afoxé Ogbon Obá, que foi fundado em 10 de fevereiro de 2007 tendo como sede o Centro Espírita João Felipe de Aguiar, criado em 1990. É uma casa de matriz africana onde se realiza um trabalho cultural e social com crianças e adolescentes. Desde o início de sua fundação, o grupo interage com as diversas linguagens artísticas de percussão, capoeira, artesanato e dança afro, desenvolvendo e promovendo a cultura afro-brasileira.


O presidente do grupo, Everaldo Silva Alves, explica que Ogbon Obá significa “conselheiros do rei” no dialeto iorubá, com o intuito de conscientizar sobre a importância da resistência cultural da religião de matriz africana e resgatar a história do povo negro.
É uma iniciativa de luta e construção de uma sociedade igualitária, democrática, livre da discriminação racial e do preconceito em todas as suas formas.
Proposta Artística: o Afoxé Ogbon Obá apresenta proposta artística para apresentações de palco, com duração de 45 a 60 minutos, de acordo com a organização do evento. O grupo dispõe de 20 componentes, divididos entre músicos e dançarinos.
Os bois

Outra resistência popular se materializa com a manutenção em atividade, numa das áreas mais precárias da região, dos bois Malabá e Mimoso, em torno dos quais se desenvolve um trabalho educativo e assistencial “para evitar que as crianças sejam recrutadas pelo tenebroso mundo das drogas”, como diz a coordenadora do Boi Malabá, Sandra Barros.
É um trabalho muito difícil de ser mantido, em face da falta de apoio da Prefeitura e do Estado, que nem sequer constrói esgotos e galerias pluviais, o que faz as nossas crianças ficarem quase sempre doentes com males que poderiam ser evitados. Felizmente, foi criado esse Projeto pelo Instituto Walmart, que veio nos dar um novo ânimo – concluiu Sandra.

Circuito turístico-cultural

Como se ver a seguir, são muitos os Atrativos Turísticos da Bomba do Hemetério (PE): Balé Bacnaré (D. Antônia) - 3444.3710 / 9252.7944, Grupo Afro Omobirim (Lia da Bomba) – 8519.6512 / 3443.3556, Maracatu Estrela Brilhante (D. Marivalda) - 3267.3753 , Cia de Dança Traçando Cultura (Jaqueline) - 8807.4307 , Gigante do Samba (Marize) - 8861.4557 / 3444.4656, Troça Abanadores do Arruda (Cristina) – 8604.5525, Boi Mimoso (Leno) - 8718.5002 / 3449.1107,Maracatu Encanto da Alegria (Clóvis) - 3441.5415 / 8626.9531, Afoxé Ogbon Obá (Pai Everaldo) - 3449.0425 / 8541.8431, Caboclinhos 7 Flexas (Paulinho) - 8854.0994 / 3444.9814, Boi D'Loucos (Carlos Amorim) - 8709.1294, Ateliê de Zildo Marques - 3266.4307 / 8891.8348, Ateliê Arte Souza (José Edilson) - 3266.2360 / 8625.9351,Grupo Ecobem (Maria Solene) – 92589112, Bombaguá (Jaqueline) - 8807.4307,Maracatu Raízes de Pai Adão (Jorge) - 3443.6668 / 8662.9766, Troça Tô Chegando Agora
(Givaldo) - 3443.3531 / 8799.8700, Boi Malabá (Sandra) - 8789.4457.

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