Como o Yuan, moeda chinesa, influencia a economia mundial?

A desvalorização da moeda chinesa e o impacto que isso pode trazer para o comércio China-Brasil

* Roberto Barth

É fato que a moeda chinesa (Yuan ou remembi) está extremamente subvalorizada, quando comparada a qualquer moeda internacional. Esta subvalorização foi mais uma das armas usadas pelo Governo chinês no intuito de incrementar as exportações daquele país. Vale a pena salientar que a China, nos últimos 20 anos precisou, e ainda precisa, gerar empregos para uma multidão de jovens com idade de entrar no mercado de trabalho, além da enorme população subempregada no campo. E a geração de empregos na indústria exportadora chinesa foi a solução adotada pelo Governo. E uma solução que deu resultado.

Com a moeda subvalorizada, a indústria chinesa pode conquistar mercado no mundo todo, inclusive destruindo, em muitos casos totalmente, vários setores industriais nos quatro cantos. Veja o caso dos brinquedos, dos eletroportáteis, da eletrônica de consumo. A fabricação nestes setores, hoje, concentra-se quase que totalmente na China. Vários produtos, que tinham produção e desenvolvimento em vários países, hoje somente são fabricados no País. E não são apenas estes produtos, mas vários componentes (para bicicletas, para eletrônicos de consumo, para computadores, etc.) que, atualmente, são fabricados somente lá. Outros inúmeros produtos, tais como calçados, escovas de cabelo, óculos e armação de óculos, imãs de ferrite e até parafusos têm uma concentração de produção acima dos 80%. E a destruição destes setores fora da China é um fato a ser constatado com muita facilidade.

E como a China, em 20 anos, conseguiu crescer e desenvolver tanto sua indústria exportadora? O Governo Chinês, há mais de 25 anos, traçou um plano muito bem elaborado de desenvolvimento. E a indústria precisava ser exportadora, dada a inexistência de um grande mercado de consumo interno. Assim, foram postas em prática políticas de fortes subsídios tributários, facilidade a créditos bancários sem juros, política de baixos salários (possível dada a enorme oferta de mão de obra), e, principalmente, uma moeda extremamente subvalorizada.

Nós, brasileiros, nem podemos criticar muito fortemente esta política cambial, uma vez que não podemos nos esquecer que, na década de 1970, foi a mesma política posta em prática pelo governo militar brasileiro, sob o comando do Ministro Delfim Netto. Devemos nos lembrar que, no Brasil, esta política de desvalorizar a moeda foi um forte incentivo para a criação de indústrias no Brasil, as mesmas que hoje reclamam da política cambial aplicada na China.

Devemos, aqui, ressaltar as diferenças entre a mesma política aplicada na China e no Brasil. Aqui, o câmbio desvalorizado teve uma duração mais curta, sem os demais fortes incentivos aplicados na China.

Em todo caso, hoje a indústria brasileira tem que concorrer diretamente com a chinesa, altamente subsidiada. Vale notar, ainda, que o nível tecnológico brasileiro de hoje é muito semelhante ao chinês, o que faz com que o Brasil tenha que concorrer exatamente com os mesmos produtos contra os fabricantes de lá. E, notadamente, os fabricantes brasileiros vêm perdendo posição no mercado internacional contra os chineses.

Ou seja, hoje, o Brasil está voltando a ser um país fornecedor de produtos agrícolas e minerais para o mundo. Estamos voltando à situação que já tivemos várias vezes em nossa história, ou seja, devemos nos lembrar dos ciclos do açúcar, da borracha e do café, e o triste final que cada um deles teve. Hoje, estamos no “ciclo” da soja e do minério de ferro. Nossas exportações hoje se concentram, e cada vez mais vão se concentrar, em matérias primas básicas, que apesar de trazerem alguns dólares para nossas reservas, não geram empregos. Produtos básicos não são geradores de empregos, e hoje, no Brasil, precisamos gerar empregos para diminuirmos as políticas assistencialistas que não geram riqueza. As bolsas família, leite, etc., apenas distribuem alguma riqueza, mas não induzem ao desenvolvimento.

Colocado este quadro, podemos dizer que a eventual valorização gradual da moeda chinesa levará a um gradual reequilíbrio no comércio mundial. Assim, nossas exportações vão ficar gradualmente mais competitivas, uma vez que o produto chinês vai se tornar mais caro. No mercado interno, podemos dizer que nossas importações de produtos chineses devem diminuir gradualmente, o que é uma benção aos industriais brasileiros sobreviventes.

Por outro lado, nossas exportações de matérias primas básicas e produtos agrícolas para a China devem permanecer nos mesmos volumes e valores, uma vez que o consumo chinês destes produtos vai se manter, dado o crescimento do consumo interno naquele país.

Dessa forma, haverá uma melhora na balança comercial brasileira, por meio do aumento de nossas exportações de produtos industriais (de maior valor agregado), manutenção de nossas exportações de produtos básicos para a China e queda das importações dos produtos industriais chineses.

Vale lembrar que dado o gradualismo praticado pelo Governo Chinês, quando se fala de valorização de sua moeda, a situação atual de artificialidade no comércio mundial não deve se modificar nos próximos anos. Cálculos de vários institutos internacionais de economia e finanças levam a números desta desvalorização da moeda chinesa entre 30 e 45%. Ou seja, o gradualismo chinês, vai fazer com que esta situação perdure ainda por muitos anos.

A situação brasileira, neste cenário, é ainda mais preocupante. O real está, no mínimo, 20% sobrevalorizado quando comparado às varias moedas internacionais. Somando-se a desvalorização da moeda chinesa à sobrevalorização do Real, podemos dizer que a nossa moeda está 75% sobrevalorizada em relação à moeda chinesa. Esta é mais uma das razões dos produtos industriais brasileiros terem perdido seu mercado mundialmente e no consumo interno no Brasil. Com uma diferença de câmbio desta magnitude (75%) é impossível a concorrência.

Resta aos industriais brasileiros (os que ainda sobrevivem, quase que numa UTI) aguardar o “gradualismo” chinês. Será que conseguirão sobreviver? Ou será que, após tantos anos, depois que a China restabelecer o valor de sua moeda, ainda haverá alguma indústria no resto do mundo??

Realmente, a paciência chinesa é uma virtude. Para os chineses...

* Roberto Barth – um dos fundadores da Comissão de Defesa da Indústria Nacional (CDIB), atualmente, Roberto é diretor da Supergauss Produtos Magnéticos, empresa que ajudou a fundar e na qual atua há mais de 25 anos na área comercial.

* A CDIB (Comissão de Defesa da Indústria Brasileira) foi criada por representantes de vários setores industriais, entre eles ímãs de ferrite, escovas e armação de óculos. Iniciativa inédita no Brasil, a comissão luta contra a elisão (triangulação), pirataria e contrabando e visa contribuir com as autoridades para que sejam tomadas atitudes contra esses problemas, que prejudicam a indústria nacional.

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