QUEM TEM MEDO DE ROBÔS NA DISPUTA PROFISSIONAL?

 

O uso de robôs em postos de trabalho está cada vez mais longe dos livros e filmes de ficção científica – e cada vez mais perto da nossa realidade. Uma estimativa feita pelo professor Pedro Henrique Melo Albuquerque, da Faculdade de Administração da UnB, prevê que 54% das mais de 2 mil profissões formais no Brasil poderão ser substituídas por máquinas ou softwares até 2026. Estamos falando de 30 milhões de vagas de trabalho.

Devemos temer por nossos empregos? A distopia tecnológica vista em filmes como Blade Runner e Matrix finalmente chegou? Para o professor, ainda não é hora de pânico: as máquinas aprendem com o que sabemos, e a criatividade humana ainda prevalece sobre sobre o código que usamos para programá-las. Ele conversou com a Academia Finatec sobre o tema e trouxe pontos de vista muito interessantes. Leia a entrevista:

Como será o futuro do trabalho com a automação? Devemos nos preparar para ter (e temer) colegas robôs?

Isso ainda é uma incógnita. A teoria sobre o mercado de trabalho e automação aponta duas correntes: uma pessimista, que acredita no aumento da taxa de desemprego e outra que afirma que os empregos serão transformados. O que é consenso é o fato de que algo está mudando, as profissões e as ocupações estão cada vez mais inclinadas a serem automatizadas ao máximo.

Particularmente, acredito que não há motivos para temer, porque as máquinas, hoje, são capazes de exercer somente aquelas tarefas repetitivas com baixo nível cognitivo. Enquanto os trabalhadores estiverem exercendo sua criatividade na resolução de problemas e apresentando soluções inovadoras a problemas cotidianos, não há o que temer.

Que tipo de trabalho será automatizado? Como o mercado deve absorver os profissionais que se tornarão obsoletos?

Fizemos uma pesquisa em 2019 sobre o tema, que pode ser acessada em https://lamfo.shinyapps.io/automacao/ Usualmente, trabalhos repetitivos, arriscados ou que demandam uma precisão muito elevada têm maior probabilidade de serem automatizados. Mas um fato interessante encontrado nessa pesquisa é que essa automação pode apresentar três panoramas.

O primeiro é de profissões completamente passíveis de serem automatizadas, como cobrador de ônibus e ascensorista, cujas atividades tendem a ser categorizadas como muito repetitivas deverão ser as primeiras a desaparecer no mercado. Depois, vêm as profissões parcialmente automatizadas, como advogados e radiologistas: parte das atividades poderiam ser exercidas por máquinas, e outras não. Por fim, as profissões não automatizáveis como babá ou cuidador de idosos, que apresentam atividades, que até o momento, não poderiam ser exercidas por máquinas.

Esses profissionais nas quais as tarefas podem ser em sua maioria automatizadas tendem a migrar para outras ocupações mais cognitivas que exijam maior nível de criatividade e adaptação.

Que tipo de profissões devem surgir nesse novo mercado?

Aquelas da Indústria 4.0 são um exemplo de profissões que estão surgindo. Uma interessante característica dessas profissões é que elas são, em sua maioria, multidisciplinares, como por exemplo cientista de dados, que exige habilidades em pesquisa, computação, negócios e estatística. Esses profissionais só serão bem sucedidos se conseguirem transitar por diversas áreas do conhecimento de maneira natural, além de possuírem algum grau de autodidatismo, para que sejam capazes de aprender novos conceitos de áreas nas quais não têm dominância primária.

Que tipo de habilidades as pessoas devem desenvolver hoje para se preparar para essa mudança? Como o ensino básico pode contribuir para a futura força de trabalho, que hoje está nas escolas?

Criatividade e inovação. A oportunidade existe hoje para aqueles que consigam inovar e serem criativos em suas soluções. Isso porque as máquinas desenvolvidas atualmente “imitam” soluções existentes e se limitam aos dados observados. Se um problema não foi anteriormente observado, a máquina não consegue aprender facilmente e aí o profissional capaz de improvisar e pensar fora da caixa apresentaria um diferencial em relação aos processos autônomos e a outros profissionais pouco generalistas e criativos.

O ensino básico tem uma responsabilidade gigantesca nisso. É na formação primária que aprendemos a pensar de maneira analítica e criativa. Incentivar essa criatividade é uma boa forma de preparar esses alunos para o futuro do mercado de trabalho.

Pedro Henrique Melo Albuquerque é mestre em Estatística pela UFMG e possui doutorado em Finanças e Métodos Quantitativos pela UnB, além de um pós-doutorado na USP e outro na Universidade da Flórida. Atua como professor adjunto no Departamento de Administração da UnB e coordena o Laboratório de Aprendizado de Máquina em Finanças e Organizações (LAMFO).

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